UMA SERPENTE PARA ZOFIR BRASIL, 2019

Zofir Brasil (1926-1990) criou uma obra de um humor cáustico com objetos encontrados, sucata, materiais orgânicos e inorgânicos cujo destino seria os aterros sanitários e o esquecimento. Pedras, madeiras, raízes, pedaços de plástico, de metal, isopor, cédulas, chaves, moedas em desuso, foram transformados, ganharam nova vida e renasceram, inscrevendo-se, então, no mundo da arte. Brasil foi um artista plástico autodidata que produziu instalações conceituais inacreditáveis, trabalhando com a ideia de ready made desde o início dos anos 60. Ele também fazia intervenções na paisagem, nos arredores de sua adorada Rio das Contas, cidade onde sempre residiu, localizada na parte sul da Chapada Diamantina. A emblemática e popularmente conhecida Nega do Zofir – mas por ele intitulada como Escrava da Natureza, é uma intervenção em uma grande pedra ancorada em uma colina na estrada que segue até Rio de Contas. A pintura homenageia a população negra deste município que abrigou um dos quilombos mais antigos que se tem registro.

Não saímos incólumes desse encontro, Zofir Brasil é para nós fonte de contínua inspiração, nos sentimos tocados por esse milagre do cotidiano da arte ligado a um contexto tão periférico do tal dito mundo da arte. Ele é a memória da insuficiência das narrativas hegemônicas da arte. Uma memória que eterniza objetos e modos de fazer que escasseiam ou que já deixaram de existir. E foi por isso que decidimos pintar uma cobra em uma raíz viva no caminho de uma ruína na cidade de Igatu, com o desejo de ativar a memória sobre um artista local, que é ainda pouco conhecido para a história da arte brasileira.

Abaixo imagens de instalações e objetos de Zofir Brasil, fotografados no Museu Zofir Brasil, em Rio de Contas, BA.

Igatu, Chapada Diamantina, Bahia, fev 2019

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