Em fevereiro de 2021, participamos da segunda edição do programa de residências Entre Nós – concebido pela curadora Clara Sampaio e realizado em parceria com a OÁ Galeria e o mosteiro zen budista Morro da Vargem, no Espírito Santo.
Nos últimos anos, temos pensado sobre a natureza performativa da gastronomia e da comensalidade. E a partir do rigoroso lockdown que vivenciamos em Madri, em 2020, começamos a pesquisar e experimentar com comida, criando novas receitas e cozinhando apenas com ingredientes locais, evitando as técnicas de frituras e a proteína de origem animal. Nesse exercício de criar novas receitas e de pensar diferentes apresentações para comidas e pratos, nos demos conta do legado imaterial que a comida é, intimamente ligada ao território, à identidade de uma região e, sem sombra de dúvidas, à performatividade.
Ao chegarmos na Chapada Diamantina em agosto do mesmo ano, nosso cotidiano de ingredientes expandiu-se e com ele nossa percepção sobre as amarras dos processos coloniais que limitam a alimentação variada e saudável, além de invisibilizarem outras maneiras de cozinhar. Tudo começa na dificuldade de acesso a produtores locais e na imposição da gastronomia internacional como técnica única para o preparo de comidas. É através da alimentação que podemos perceber claramente o embate entre a globalização e o brilho da localidade, da regionalidade.
Em nossas práticas de cozinhar e de comer, nossos ingredientes e pratos são comentários sobre o global imposto e o local, autêntico em desaparecimento. Cozinhar para nós é oferecer a natureza que nos rodeia, uma natureza a qual pertencemos totalmente, que torna possível a nossa existência e que nos nutre.
