DAGMAR, FILHA DO BARRO, 2022

monitores, bancos e vasos de cerâmica, vídeo e som multicanal 5.1 // monitor screens, ceramic stools and vases, video and 5.1 channel audio // 46m09s

// 37° Panorama da Arte Brasileira – Sob as Cinzas, Brasa // MAM Museu de Arte Moderna de São Paulo // curadoria Claudinei Roberto da Silva, Vanessa Davidson, Cristiana Tejo e Cauê Alves

A vídeo instalação Dagmar, Filha do Barro (2022) é uma combinação de objetos cerâmicos, vídeos e um ambiente sonoro multicanal 5.1 e foi comissionada pelo 37° Panorama da Arte Brasileira, que nesta edição tem o título: Sob as Cinzas, Brasa.

Para a vídeo instalação produzimos um documentário com cerca de 50 minutos que foi fragmentado em oito núcleos. Cada núcleo é apresentado em relação a uma peça cerâmica confeccionada por Dagmar Muniz de Oliveira. Conhecemos Dagmar quando nos mudamos para a Bahia em agosto de 2020. Ao longo de quase dois anos acompanhamos com regularidade o dia-a-dia da Cerâmica 14 Irmãos, uma olaria familiar da foz do rio Jequitinhonha, localizada na cidade de Belmonte (Bahia), iniciada por Dona Dagmar. Nesse lugar são produzidos os maiores vasos cerâmicos do Brasil.

O conteúdo dessa pesquisa audiovisual narra a força do matriarcado na luta pela sobrevivência e manutenção de tradições ancestrais, em cruzamento com as etapas de confecção cerâmica: a busca do barro no Jequitinhonha, a secagem e a preparação da argila, a modelagem das peças em família, o enfornamento dos potes e a singular queima em forno caieiras. Nosso objetivo principal foi o de lançar um olhar crítico sobre as práticas culturais ligadas ao território e sensibilizar o público sobre os modos de vida – e suas culturas – em desaparecimento.

O trabalho com o barro, produzindo cerâmica, modificou o destino dessa mulher ribeirinha, que encontrou no exercício desse ofício a ponte que conecta o desejo de criar com o compromisso de sustentar a vida. Nascida em um contexto de insegurança alimentar, financeira e sem acesso à educação, Dagmar afirma que criou tudo a partir do barro. Hoje, quase toda a família – filhos, netos e bisnetos – aprenderam o ofício e colaboram na produção de peças na Cerâmica 14 irmãos. Outros filhos seguem os ensinamentos de Dagmar mantendo ateliês e lojas próprias.

Os vídeos da instalação compõem uma narrativa com a qual podemos aprender sobre tenacidade, resiliência, sobrevivência e inovação, e sobretudo interrogam acerca desse lugar movediço e precário que o artista plástico e o artista popular ocupam no ecossistema da cultura no Brasil. Trabalhar com objetos, escultura e instalação abrange um domínio complexo de materiais e inúmeras possibilidades de forma e apresentação. Desde Platão, passando pelos Modernistas, ainda subsiste uma escala hierárquica nas artes que desqualifica o saber manual.

A vídeo instalação busca instaurar trânsitos e experiências ao apresentar um fazer, como narrativa e como objeto, pondo em contato regimes de significação distintos, discutindo, assim, o funcionamento do meio institucional da arte. Neste paralelo, no qual peças cerâmicas produzidas por Dagmar convivem com vídeos que narram sua história, interrogamos sobre os limites que separam a arte da artesania, e também de como a arte conceitual se sobrepõe como pensamento hegemônico na prática dos artistas contemporâneos. Através deste trabalho, buscamos entender porquê uma cronologia tão recente vem silenciando todo o campo perceptivo ligado a intuição e ao corpo.

Propomos que o público conceba sua própria narrativa através da circulação entre vídeos e peças. Os múltiplos lugares de entrada da vídeo instalação desvelam diferentes fragmentos da obra e da história de vida de Dagmar, além de poder conhecer de perto a produção material da artista, inclusive sentar-se nos bancos feitos de barro ou tocar no grande vaso de 2,30m – que vibra a cada dez minutos, em razão da trilha criada para o ambiente sonoro. Não há itinerário a seguir, o visitante deve apenas conceder seu tempo. O tempo dedicado a cada monitor permite ao público elaborar sua própria narrativa sobre a artista, enfrentando assim o estatuto dos filmes documentais que são sempre o recorte da subjetividade dos seus autores.


fotografia [cinematography] Marco Antônio Nunes
colorização [color grading] Arthur Bovo, Daniel Dode e Gustavo Zuchowski
som direto [production sound] Cássio Nobre
edição de som [sound design] Tiago Bello
assistência de som [sound assistant] Luiz Lepchak
música [music] Carina Levitan
montagem [editing] Bruno Carboni

vaso de cerâmica escrito [ceramic vase with writing]
modelagem [modeling] Elizete Oliveira Santos Farias
escrita e desenhos [writing and drawings] Paulo Roberto Oliveira Santos
queima [firing] Jorge de Oliveira Santos

ambiente sonoro 5.1 [5.1 surround sound] Tiago Bello

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